Terra: Em seus livros e artigos, o senhor apresenta uma imagem muito ruim das ONGs.Por que?
Vaknin: Essas organizações são um fenômeno canceroso mundial. Elas interferem na política doméstica dos países onde atuam e participam ativamente em campanhas eleitorais, ameaçando a soberania das nações. Além disso, promovem o protecionismo econômico ao advogar causas sanitárias, ambientais e trabalhistas que só interessam aos países ricos. Elas justificam intervenções militares, promovem a discórdia social e são donas ou sócias de empresas que competem com as indústrias locais, num claro conflito de interesses.
Mas essa não é uma generalização perigosa? Organizações como os médicos sem Fronteiras e a Anistia Internacional não trabalham para melhorar a vida das pessoas?
Se elas apenas se preocupassem em distribuir remédios ou dar assistência humanitária, estaria tudo bem. O problema é que as ONGs querem transformar a realidade local de acordo com uma visão de mundo preconcebida.
As bandeiras das ONGs nem sempre são boas?
Claro que não. Acreditar que o ocidente tem o monopólio dos valores éticos e morais é um indisfarçado chauvinismo cultural. Essa arrogância corresponde, no século 21, ao racismo e ao colonialismo dos séculos passados. Essas ONGs defendem a democracia, a extensão dos direitos humanos e civis, o fim do trabalho infantil, a igualdade dos sexos e a proteção das minorias. O problema é que nem todas os povos acham esse menu liberal palatável.
As ONGs crescem rapidamente no Brasil e atraem jovens que desejam fazer alguma coisa para melhorar a situação do país. Isso não é bom?
As ONGs muitas vezes servem como substitutas para as instituições estatais falidas ou deficientes. À vezes estão mais preocupadas com o bem-estar de seus membros do que em realizar um trabalho sério. Elas são marcadas por desperdício, corrupção e autopromoção institucional. Muitas vezes são cúmplices dos setores mais atrasados da sociedade, que pregam o assistencialismo como solução dos problemas sociais. São em geral cabides de emprego ou cabos eleitorais de políticos.
Há alguma maneira de solucionar esses problemas?
A luz desinfecta. A única solução é forçar as ONGs a se democratizar. Deveria haver eleições para todos os níveis e incluir entre seus diretores membros das sociedades onde elas atuam, com poder de decisão. Também deveriam prestar contas à sociedade como qualquer empresa comum faz aos seus acionistas.
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