TERRA: O senhor mostra em seu livro como o empreendedorismo social cresce rapidamente no mundo inteiro. De onde vem esse movimento?
BORNSTEIN: Há algumas forças históricas em ação impulsionando esse crescimento. O crescimento de uma classe média educada, a extensão dos direitos básicos às mulheres e às minorias e a democratização do acesso à informação e à tecnologia permitiram que centenas de milhões de pessoas em todo o mundo pudessem liberar suas forças criativas em novas direções. Nas últimas décadas, mais de 80 países que eram governados por ditadores, por regimes de apartheid ou sociedades totalitárias se transformaram em democracias. As pessoas estão mais bem informadas sobre os problemas sociais e tem mais desejo e capacidade de fazer algo para solucioná-los.
Por que esses empreendedores sociais não se transformam em políticos ou funcionários públicos para fazer alguma coisa pela população?
A maior parte dos empreendedores sociais evita trabalhar nas estruturas governamentais porque se sente constrangida por considerações políticas ou amarrada à burocracia. Eles preferem a liberdade de criar suas próprias organizações.
Além disso, os governos precisam dar respostas a demandas comandadas por ciclos eleitorais muito curtos, às vezes de dois ou quatro anos, enquanto os empreendedores sociais criam suas empresas visando projetos com décadas de duração. Por fim, governos costumam impor suas soluções de cima para baixo, enquanto os empreendedores sociais fazem o caminho inverso, identificando as necessidades locais e criando projetos adequados a elas.
No Brasil, há uma avalanche de novas ONGs com as mesmas propostas e disputando as mesmas fontes de recursos. Isso não dispersa esforços e desperdiça recursos?
O problema não está no aparecimento de novas ONGs, mas na continuidade daquelas que já se mostram ineficientes. Estas precisam sair do caminho para não atrapalhar as demais. Sou favorável à competitividade entre as ONGs. Isso cria uma dinâmica saudável que permite o surgimento de novos lideres, novas idéias e novos projetos.
Em seu livro há muitos exemplos em que iniciativas isoladas tiveram impactos positivos numa comunidade. No entanto, há problemas que ações individuais podem aliviar, mas nunca eliminar de vez. O que fazer, então?
Não podemos ficar apenas em ações isoladas, mas produzir uma rede integrada de ações unindo empreendedores sociais, empresas e governos. Há uma tendência nesse sentido. Os problemas sociais são complexos e o grande desafio para o empreendedorismo social daqui para frente é fazer com que as iniciativas convirjam de forma coerente e criativa.
E o senhor acredita que o mundo vai mudar para melhor?
Se olharmos a questão da pobreza, os números mostram que conseguimos tirar quase meio bilhão de pessoas da miséria em apenas dez anos. Ao mesmo tempo, porém, problemas sérios como o aquecimento global e ameaças terroristas pioram.
Se o número de empreendedores sociais crescer de forma mais rápida do que o de terroristas, então estou convencido de que em 20 ou 30 anos teremos um mundo melhor. Temos que proteger e estimular as forças benignas das sociedades, investir dinheiro e tempo nas ONGs para que o futuro não seja dominado pelas forças negativas.
não-governamentais no Brasil.
E o número não pára de crescer
[Onde encontramos essa entrevista]
Nenhum comentário:
Postar um comentário